Há exatamente um ano, nos dias 22 e 23 de março de 2024, Mimoso do Sul, no sul do Espírito Santo, enfrentou uma das maiores tragédias de sua história. Fortes chuvas provocaram uma enchente devastadora que resultou na morte de 19 pessoas e afetou mais de 10 mil moradores, entre desalojados e desabrigados.
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A enchente, considerada a pior já registrada no município, causou destruição em larga escala. Imagens aéreas capturadas na época mostravam ruas cobertas de lama, casas destruídas e escombros espalhados por toda a cidade. Além de Mimoso do Sul, outros municípios capixabas, como Alfredo Chaves, Apiacá, Bom Jesus do Norte, Ibitirama, Vargem Alta, Muqui, Muniz Freire, Guaçuí e Castelo, também sofreram com as fortes chuvas.
Moradores relembram com tristeza os momentos de desespero vividos durante a tragédia. Lia Márcia, de 55 anos, perdeu tudo na enchente e relatou ter presenciado uma casa de repouso sendo inundada, sem que os residentes pudessem ser salvos. "A gente nunca espera. É muito triste e desesperador. As coisas vão acontecendo e parece que não é real", disse ela.
Impacto na economia
Segundo a Associação Comercial de Mimoso do Sul (Ascomes/CDL), aproximadamente 98% dos estabelecimentos comerciais foram atingidos pelas águas, resultando em perdas materiais quase incalculáveis, com muitos comerciantes enfrentando prejuízos totais.
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Empreendedores como Francisco de Assis Rezende, proprietário do "Rei dos Petiscos", localizado na Praça das Mangueiras, viram seus negócios serem completamente destruídos pela força das águas.
Para minimizar os impactos a Igreja Católica lançou a moeda solidária para ajudar moradores e comerciantes da cidade. “A nossa ideia era fazer com que as pessoas beneficiadas gastassem aqui no município, então pensamos nessa moeda solidária para ajudar a todos”, destacou o padre Glacione.
Fé e Esperança em Meio à Tragédia
Um dos relatos mais comoventes é o de Ivone da Silva, de 67 anos. Durante a madrugada da enchente, Ivone, seu marido, filho e irmão tiveram que evacuar rapidamente sua residência devido à rápida elevação das águas. Ela descreve o momento como desesperador, especialmente ao ter que atravessar uma linha de trem com a água quase na cintura. Mesmo diante do perigo iminente, Ivone não conseguia deixar de pensar em sua imagem de Nossa Senhora Aparecida, que sempre teve um lugar especial em sua casa.
Outro episódio que chamou a atenção foi o de um escritório de advocacia localizado no centro de Mimoso do Sul. Após a enchente, o local estava completamente destruído, com móveis e documentos perdidos. No entanto, uma mesa permaneceu de pé, e sobre ela estavam intactos uma Bíblia e um terço.
O advogado responsável pelo escritório, Lucas Ramos Luksik Schmidt Paiva Gomes, de 24 anos, descreveu sua surpresa ao encontrar esses itens ilesos. "Perdi meus móveis, geladeira, documentos dos clientes, tudo. A única coisa que permaneceu de pé foi a mesa em que trabalho. Ela só foi reposicionada no escritório, mas tudo que estava em cima dela – livros, porta-canetas, copo, meu terço e minha bíblia católica com a imagem de Nossa Senhora Aparecida – continuou intacto e na mesma posição que deixei na sexta-feira. Não consigo ver outra explicação senão Deus", afirmou Lucas.
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Recomeço
Desde então, a cidade tem se empenhado na reconstrução e na implementação de medidas para prevenir futuras tragédias. Recentemente, foi iniciada a dragagem de canais assoreados pela enchente de 2024, visando melhorar o escoamento das águas pluviais e evitar novos alagamentos. Além disso, uma audiência pública está marcada para o dia 24 de março de 2025, na câmara de vereadores de Mimoso do Sul, para debater a reconstrução da cidade e estratégias de prevenção a eventos climáticos extremos.
Um ano após a tragédia, Mimoso do Sul continua sua jornada de recuperação, buscando não apenas reconstruir o que foi perdido, mas também fortalecer suas estruturas para enfrentar os desafios que o futuro possa trazer.
O que fazer para evitar novas catástrofes?
No estudo, feito após seis inundações que aconteceram entre 2005 e 2010 em Mimoso, foram apresentadas soluções cruciais para evitar enchentes nos pontos de risco identificados, além de deslizamentos de terra. Em relação às inundações, o plano apontou áreas com previsão de serem inundadas em um período de até 100 anos.
Entre as ações sugeridas, estavam a dragagem e a derrocagem do Rio Muqui do Sul, a dragagem e a construção de barragem no Córrego Belo Monte e as dragagens nos córregos da Serra e de Santa Marta.
Na época do PMRR, moradores de Mimoso já relatavam suas percepções de risco na cidade. Treze pessoas foram entrevistadas pela Sedurb e, dessas, dez afirmaram considerar que suas residências estavam localizadas em áreas de perigo.
Mas de lá, pra cá, o município ignorou as ações ambientais e em 2014 foi o segundo que mais desmatou no estado.
Qual a relação entre o desmatamento e as enchentes?
O biólogo Ronny Dandelion explica a relação entre desmatamento e as enchentes.
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